terça-feira, 1 de outubro de 2013

Em defesa do triângulo amoroso

Experiências venturosas nos propiciam uma incursão por dimensões que nem sempre podemos alcançar em situações ordinárias e cotidianas. Sim. Hoje cheguei lá. Posso dizer que, com absoluta certeza e com a propriedade de quem experimentou, três instrumentos são valiosos em nos conceder o sabor do néctar: a música, a leitura e a escrita, que protagonizam brilhantemente este espaço, entitulado "O som das palavras".
Participei nesta manhã de um encontro literário com a escritora colombiana Yolanda Reyes e pude ser apresentada ao conceito do "Triângulo Amoroso" por ela construído. 
Colocarei luz, pois, na leitura!
Antes de viajar pelas ideia que por ora habitam minha mente, acabei por direcionar minha curiosidade para a estrutura triangular das muitas coisas (até para me aproximar do tal triângulo amoroso) que cercam a história humana, contudo, limitei-me às mais próximas de mim.
O triângulo figura a filosofia da perfeição e do equilíbrio, da possibilidade de conjunção. Se adentrarmos na numerologia e na simbologia do número três, uma série de proposições despontarão. Sem a intenção de esvaziar a cultura ou apresentar um tratado em torno do número três, coloco aqui alguns instantâneos para contextualizar o que quero dizer: Santíssima Trindade, Praça dos Três Poderes, as três raças, os três pilares da educação, os três estados físicos da água e outros tantos três que o leitor poderá enumerar posteriormente.
Coincidência ou não, escrevo em meu blog tendo por referência o tripé música-leitura-escrita. Sutilezas da arte!
Enfim, quando Yolanda começou a dissertar docemente sobre este conceito, fundamental para o processo de aprendizagem da leitura, em seus aspectos literários, pelos nossos pequenos, entendi a engenharia do triângulo e como ele sustenta o objeto a que se propõe equilibrar. Para Yolanda, formar leitores implica uma arquitetura simples, posicionando-se estrategicamente três elementos: 


O desenho proposto sugere uma intencionalidade tal que não basta propiciar o célebre encontro entre criança e livro. Ganha destaque no 'ménage a trois' o adulto, não por marcar o encontro, mas por mediar o enlace. Leitor experiente que é, ou deveria ser, o mediador oferece pistas para o leitor aprendiz mergulhar nas profundezas das palavras, desvendar mistérios antes indissolúveis, encantar-se com os arranjos semânticos que comunicam o que não se faz presente, recontar e construir sua própria versão sobre a realidade que o cerca e que não consegue explicar.
Triângulo amoroso... de fato há que se deitar os olhos amorosamente sobre as palavras escritas para permitir que elas se revelem candidamente, sem ressalvas, reservas, resistência. Livro, criança e adulto devem ser, além de amantes, cúmplices incondicionais, negociando sentidos, aceitando a diversidade, preservando a poética, a estética e a ética.
Só assim será possível alcançar o objetivo máximo da leitura literária. Ouso aqui, transcrever o que diz Yolanda Reyes em seu livro "Ler e brincar, tecer e cantar":

"E embora ler literatura não transforme o mundo, pode fazê-lo ao menos mais habitável, pois o fato de nos vermos em perspectiva e de olharmos para dentro contribui para que se abram novas portas para a sensibilidade e para o entendimento de nós mesmos e dos outros"

O adulto/mediador precisa de todo cuidado para  manter intacto e resguardado este triângulo amoroso. Articular intenção e emoção, firmar o diálogo entre a didática e a poética, ter propósitos firmes e ternos e, eu acredito nisso, permitir entregar-se, deixando transparecer sua paixão pelo que faz.
Seduzir no lugar de impor e não se esquecer que o verdadeiro amor não pede nada em troca.

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