sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A vida da Saudade


A Saudade quando desperta, se levanta da alma e toma banho de lágrimas.

Ergue os olhos inundados de aurora e sorri diante da estrada despejada aos seus pés.
Toma um gole de esperança, saboreia quimeras de fé.
Então, apanha um casaco de paciência. 
O frio percorre o vazio deixado ao abrir a porta.
Saudade não se despede da Solidão. Deixa-a entregue aos monólogos em que dorme.
É primavera e há flores ao longo da estrada.
O orvalho refresca os passos rumo ao seu destino.
Saudade sabe que sua natureza é morrer.
Deve morrer para dar vida e renascer quando a distância brotar das mãos de quem se vai.

Morrerá quantas vezes forem necessárias.
Morrerá na paz do reencontro.
Morrerá no calor de um abraço.
Morrerá na doçura de lábios se tocando.
Morrerá nas memórias revividas e reinventadas.
Morrerá na sina de sua própria ressurreição.

Ressurge das plataformas de embarque.
Ressurge da melancolia do adeus.
Ressurge das mãos que se soltam.
Ressurge do rompimento de laços.
Ressurge das cinzas da morte.
Ressurge da sina de sua própria necessidade de morrer.

(Sayaka Maruyama)



Beatriz já lê

Eu acredito e incentivo a leitura a partir do primeiro ano de vida...

Acho que as palavras podem ceder espaço para a imagem. Vale a pena assistir:


http://www.youtube.com/watch?v=M9v_5HxjBIA





terça-feira, 29 de outubro de 2013

Bem aventurados os que leem!

http://belavistanews.wordpress.com/tag/filme/


Sempre que assisto ao filme "O livro de Eli" consolido minhas convicções sobre o poder conferido a quem tem acesso ao conhecimento. No entanto, não se trata de qualquer tipo de acesso, pois existem várias maneiras de construirmos conhecimentos e checarmos a eficácia de nossas hipóteses; há vários caminhos para conseguirmos informações. O tipo de acesso comunicado neste filme é a leitura. Mais precisamente a leitura de um determinado livro.
http://fimdomundo.me/2012/12/13/o-livro-de-eli-o-livro-de-poder/
Carnegie, líder perverso e ambicioso de seu vilarejo, devastado pela guerra empunhada pelo poderio humano, vivido pelo ator Gary Oldman, tem a ideia fixa (e ele está certo a meu ver) de que seu domínio será irrestrito e intransferível quando colocar as mãos e ter sob sua custódia um certo livro, cujas histórias convencerão seus súditos de que ele (Carnegie) tem as respostas para seus dramas, para a sombra em que vivem. Carnegie vê neste livro a possibilidade de acessar informações que possam seduzir a comunidade que lidera a segui-lo cega e silenciosamente.
Alguns detalhes da obra corroboram para fortalecer o plano de Carnegie: somente o ditador sabe ler. Resultado: ainda que saibam do livro, os pobre servos não traduzirão o emaranhado de palavras ali presentes. Terão de confiar no "Mestre".
Era exatamente neste ponto onde eu queria chegar.
Há todo um discurso pronto na sociedade de que ler é importante e fundamental. Campanhas publicitárias invadem rádio, televisão e revistas conclamando a todos para que leiam. A escola faz deste objeto de ensino, a leitura, sua razão de existir.
No entanto pouco se fala da ascensão ao poder quando sabemos ler. Para além da possibilidade de viajar sem sair do lugar, de dar asas à imaginação, ler ingressa o leitor à sociedade do conhecimento e da informação. Muito mais que dar respostas, ler impele a fazer perguntas, a questionar as tantas verdades que um dia alguém "mais sabido" nos impôs.
Quando falo "ler", ultrapasso as cercas da decifração, estratégia indispensável no ato da leitura. Falo do mergulho investigativo que estabelece relações com outros textos e outras experiências (sim, experiências são preciosas no processo de construção de sentidos) e emerge reticências para novas combinações e significados. Falo da leitura que revela o dito e o não dito. Falo da leitura que provoca a busca por outras leituras, bem como pelo desejo de não ler.
http://pipocamoderna.com.br/o-livro-de-eli-leva-a-biblia-para-o-pos-apocalipse
Esse tipo de leitura permite ao leitor muito mais que o poder, mas a flexibilidade de ir e vir, de agregar e desconstruir, sem desfazer da versão que o outro traz, mas com a plena capacidade de compreendê-la e reeditá-la.
E salve o Dia do Livro Nacional (29/10) !!!!!

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A pá lavra!

Já reparou como algumas palavras se comportam de acordo com o que significam?
Nunca havia pensado nisso antes, mas ao dizer SORRISO e sentir meus lábios se abrindo e os cantos da boca tomando distância de um lado a outro, percebi que a palavra SORRISO confere o riso aos lábios. Diga SORRISO em frente ao espelho. Se puder articule exageradamente os lábios. Você flagrará um sorriso de fato, natural, inclusive.
SINCERIDADE traz exatamente a leveza que sentimos aos sermos verdadeiros (ainda que doa no outro). Tirar dos ombros a carga do incômodo é um alívio, o que só possível com sinceridade. Dizer SINCERIDADE elimina tanto ar durante a pronúncia quanto dizer a verdade elimina o peso na consciência.
(Leslie Ann O'Dell)
TOLERÂNCIA parece um pêndulo. A língua sobe e desce num baile de atitude e espera. Pronunciar TOLERÂNCIA nos faz compreender o que é aceitar o tempo necessário para concluir a fala e o pensar. Ao findar a pronúncia da penúltima sílaba, já não temos mais o desejo de impor nossa vontade, sem antes conhecer o que vai no pensamento alheio.
LUZ te projeta  tal como a lâmpada que se acende e espalha luminosidade sobre o breu imperante. O prolongamento impresso aos lábios quando se fala LUZ revela a verdadeira dimensão desta fonte de energia quando necessitamos de força, coragem, proteção.
LIVRO liberta.
PARTO rompe.
PERFUME volatiza.
ESTRELA revela.
CHORO molha.
PIANO cala.
MANTEIGA escorrega.
SILÊNCIO sossega.
E assim, uma infinidade de proposições podem materializar o pensamento numa palavra que se diga.
E deve haver uma cumplicidade entre palavra e poeta. O poeta sabe exatamente que palavra escolher para seduzir o leitor a enxergar o que ele quer dizer.
Amo as palavras pela oportunidade que nos oferecem de brincar com os sentidos, de dar forma ao pensamento e, ao leitor, o direito de edificar o que melhor lhe servir.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

É preciso falar o que queremos dizer!

(Afshin Pirhashemi)
Comunicação é o que salva o ser humano do isolamento ao mesmo tempo em que pode afastar os falantes que ocupam um mesmo espaço. Se não cuidarmos de potencializar um diálogo construído sobre a trama da diversidade conceitual, que compõe as entidades pensantes, seremos fadados ao silêncio barulhento e massacrante daqueles que falam e não se fazem ouvir.
Arranjar as palavras para que deem corpo ao pensamento, num processo instantâneo e coletivo, pode conjugar dizeres agregadores que nos confraternizam numa mesma comunidade. Ou não, pode levar ao recrudescimento da arte de se comunicar, encaminhando para posições radicais, dicotomizando pareceres entre aqueles que, pela natureza do lugar que ocupam, precisam comungar das mesmas palavras, ainda que concepções díspares caracterizem seu fazer enquanto personagens históricos.
A mesma frase que edifica uma proposta, tende a demolir estruturas construídas em bases pouco consistentes, fruto de um emaranhando de palavras divergentes emitidas por um time que acredita investir em ações que levam a bola a balançar a rede do gol.
Comunicar implica escolhas delicadas. Escolhas não só de palavras, mas de combinações e instrumentos. Escolhas que podem criar ou desconstruir.
Que a escolha não seja por descuido, mas por uma decisão emergente, cuja seta indicadora nos leve ao cerne do que queremos conquistar, seja isto, criar, recriar, até mesmo desconstruir. 
Que a escolha não seja inocente, mas prudente. Que provoque quem houve e lê a tirar suas próprias conclusões, mas que entenda onde o escritor ou falante desejou alcançar.
Que escolha nos convoque ao dialogismo produtivo, apagando o palavrório paralisador que ocupa nosso tempo precioso quando temos de discursar expressões do tipo "não foi bem isso que eu quis dizer", "você está colocando palavras na minha boca" ou "foi isso que eu disse, só que com outras palavras".
Já dizia o Velho Guerreiro: "quem não se comunica se estrumbica" e de "estrumbicação" estamos fartos!

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O caipira com Antonio Candido

Uma das ferramentas mais eficazes para combater o preconceito é o acesso à informação (de fontes fidedignas) e ao conhecimento.

Você sabe o que é um "R retroflexo"?
Você ri quando alguém diz "armoço" e não "almoço"? E quando se fala "pregunta" ao invés de "pergunta"?
Você já pensou quando condena uma atitude "bairrista"?
Você usa o termo caipira para designar o primitivo e não civilizado?

Assista ao vídeo e construa ou reconstrua seus próprios conceitos. Mas não queira impô-los, permita aos outro que tenha a mesma oportunidade dada a você de pensar e aprender!
E parafraseando Antonio Cândido: "fale do que sabe não apenas como estudioso, mas como participante deste conhecimento"


Por que às vezes eu não escrevo.

Não desejar escrever é prerrogativa da qual não abro mão.
Silenciar tem a mesma propulsão que a busca sedenta por palavras que relevem meus pensamentos, sentimento e crenças.
(Anka Zhuravleva)

O que me impele ao silêncio tem natureza similar ao que me empurra para a escrita.

Grito ao mundo me calando. Anuncio a quietude da mente forjando palavras.

Arranjos sentidos omitindo vocábulos. Preencho papéis em branco subornando o vácuo.

Cumpro o dever de me comunicar me servindo do direito de não escrever.

Há quem não viva sem se alimentar de letras, lidas e escritas.
Há quem idolatre o silêncio.
(Anka Zhuravleva)



Eu preciso dos dois. Dispostos equilibradamente nas extremidades opostas da gangorra que é a vida.

Não suportaria ganhar para escrever. Mas gosto de trabalhar tendo a escrita como ferramenta fundamental.

Entre o dizer e o calar, prefiro ler.
(Anka Zhuravleva)
Prefiro incursionar muda para emergir coroada de textos que dizem aquilo que vi, sem cobranças, sem prazos, sem convenções.

Nem sempre consigo morder a língua para que as palavras pulem lestas e radiantes da ponta em que se encontram.

Nem sempre olho para algo e construo hipóteses que digam o que não foi dito, que versem antíteses.
Posso escolher cantar, fotografar, mas esquivo de escrever quando me falta o latim.

Quando o pensamento é fluídico e o coração pulsa leve, as palavras brotam impulsivas, reverberam das edificações intelectuais que guardo na alma, frutos do que vivi, li, ouvi, senti.

Aí é uma festa só, tecida em muitas letras, significantes e significados que se desprendem assim que podem da autoria de quem escreveu.

domingo, 13 de outubro de 2013

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O que a leitura provoca em você?



Recomendo esse vídeo... não por ilustrar com imagens deliciosas o prazer de ler. Talvez por algumas palavras que visitam o cenário. Mas por despertar a sublime capacidade humana de pensar sobre o lugar que a leitura pode ocupar em nossas vidas.
O que a leitura provoca em cada um?
O que a leitura provoca em você?
A leitura provoca em mim um desejo enorme de escrever. Um desejo de brincar com as palavras de forma que traduzam o abstrato. 
A leitura me fornece elementos para estabelecer relações entre objetos que não se misturam, para buscar combinações improváveis, para promover classificações transgressoras.
A leitura conduz os corpos de um tom a outro, permite estar em vários lugares ao mesmo tempo sem os mínimos esforços de movimentos.
A leitura responde indagações particulares, pessoais com respostas na medida mais acertada para quem se destina, com respostas que desejamos ouvir, ou melhor, ler.
A leitura evoca a presença do que talvez não possa existir.
A leitura convoca mentes pensantes e adormecidas, espíritos curiosos e acomodados.
A leitura adormece dúvidas que ainda não merecem ser desveladas para, no dia seguinte, acordá-las sem a maior cerimônia.
A leitura simplesmente concede gratuitamente à autodescoberta...
Simplesmente cede espaço despretensiosamente à autocriação...
Não se furte ao direito de ler, mas se não há o desejo, se a sedução for insuficiente, não furte o direito de ler àqueles que não conhecem a leitura.
Ahhhh e não demore muito, como disse Flavia Savary, no texto Doce de Tereza, quando a sobremesa chega pode não haver espaço para saboreá-la!!!!





terça-feira, 1 de outubro de 2013

Em defesa do triângulo amoroso

Experiências venturosas nos propiciam uma incursão por dimensões que nem sempre podemos alcançar em situações ordinárias e cotidianas. Sim. Hoje cheguei lá. Posso dizer que, com absoluta certeza e com a propriedade de quem experimentou, três instrumentos são valiosos em nos conceder o sabor do néctar: a música, a leitura e a escrita, que protagonizam brilhantemente este espaço, entitulado "O som das palavras".
Participei nesta manhã de um encontro literário com a escritora colombiana Yolanda Reyes e pude ser apresentada ao conceito do "Triângulo Amoroso" por ela construído. 
Colocarei luz, pois, na leitura!
Antes de viajar pelas ideia que por ora habitam minha mente, acabei por direcionar minha curiosidade para a estrutura triangular das muitas coisas (até para me aproximar do tal triângulo amoroso) que cercam a história humana, contudo, limitei-me às mais próximas de mim.
O triângulo figura a filosofia da perfeição e do equilíbrio, da possibilidade de conjunção. Se adentrarmos na numerologia e na simbologia do número três, uma série de proposições despontarão. Sem a intenção de esvaziar a cultura ou apresentar um tratado em torno do número três, coloco aqui alguns instantâneos para contextualizar o que quero dizer: Santíssima Trindade, Praça dos Três Poderes, as três raças, os três pilares da educação, os três estados físicos da água e outros tantos três que o leitor poderá enumerar posteriormente.
Coincidência ou não, escrevo em meu blog tendo por referência o tripé música-leitura-escrita. Sutilezas da arte!
Enfim, quando Yolanda começou a dissertar docemente sobre este conceito, fundamental para o processo de aprendizagem da leitura, em seus aspectos literários, pelos nossos pequenos, entendi a engenharia do triângulo e como ele sustenta o objeto a que se propõe equilibrar. Para Yolanda, formar leitores implica uma arquitetura simples, posicionando-se estrategicamente três elementos: 


O desenho proposto sugere uma intencionalidade tal que não basta propiciar o célebre encontro entre criança e livro. Ganha destaque no 'ménage a trois' o adulto, não por marcar o encontro, mas por mediar o enlace. Leitor experiente que é, ou deveria ser, o mediador oferece pistas para o leitor aprendiz mergulhar nas profundezas das palavras, desvendar mistérios antes indissolúveis, encantar-se com os arranjos semânticos que comunicam o que não se faz presente, recontar e construir sua própria versão sobre a realidade que o cerca e que não consegue explicar.
Triângulo amoroso... de fato há que se deitar os olhos amorosamente sobre as palavras escritas para permitir que elas se revelem candidamente, sem ressalvas, reservas, resistência. Livro, criança e adulto devem ser, além de amantes, cúmplices incondicionais, negociando sentidos, aceitando a diversidade, preservando a poética, a estética e a ética.
Só assim será possível alcançar o objetivo máximo da leitura literária. Ouso aqui, transcrever o que diz Yolanda Reyes em seu livro "Ler e brincar, tecer e cantar":

"E embora ler literatura não transforme o mundo, pode fazê-lo ao menos mais habitável, pois o fato de nos vermos em perspectiva e de olharmos para dentro contribui para que se abram novas portas para a sensibilidade e para o entendimento de nós mesmos e dos outros"

O adulto/mediador precisa de todo cuidado para  manter intacto e resguardado este triângulo amoroso. Articular intenção e emoção, firmar o diálogo entre a didática e a poética, ter propósitos firmes e ternos e, eu acredito nisso, permitir entregar-se, deixando transparecer sua paixão pelo que faz.
Seduzir no lugar de impor e não se esquecer que o verdadeiro amor não pede nada em troca.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Dívidas impagáveis


O ser humano é sem dúvida uma bela, porém complexa, criação. 
Complexa porque insiste em ser inexplicável, além de complicar o que há de mais simples. Não que amar seja simples, mas inverter a ordem natural das coisas e criar critérios classificatórios e deterministas não me parecem atitudes promotoras de harmonia.
O ser humano tem a vergonhosa capacidade de adquirir dívidas de valor incalculável, pois os juros são infinitamente ofensivos e jamais suprirão as perdas, as dores, a humilhação aplicada àqueles que deveríamos chamar de "próximos".
Ao rever o filme O Pianista uma mistura de náusea, indignação e ódio (não deveria, mas não serei hipócrita) preencheu minha mente.
Quis chorar.
Pesquisei sobre o tema holocausto.
Li artigos.
Vã tentativa de entender porque fazer dívidas dessa dimensão. Não bastasse dizimar os povos das longínquas terras, acomodados em suas vidas e rotina. Não bastasse a prática da escravidão, em todas as suas facetas vis e bárbaras.  Não bastasse a hegemonia europeia domesticando os índios brasileiros e sustentando sua riqueza às custas de sangue africano. Não bastasse as cabeças sob as botas dos que se acham gigantes, quis o ser humano endividar-se com o holocausto.
Em pleno século XX, a dita sociedade civilizada, preferiu agonizar a consciência e manchar as mãos de vermelho, espalhando as marcas ao longo das paredes da alma. A troco de que? Poder? Dinheiro? Redenção? Páginas de enciclopédia? Lápides de mármore? Lamentável.... Ah ser humano, nem ao menos a perda de crédito abala sua gana pelo império. Ah ser humano....faço parte desse mundo e carrego a dor de não poder repor um centavo sequer do que foi retirado de meus semelhantes...





Caso alguém se interesse, as imagens foram retidas do site:

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Colcha de Olhares



COLCHA DE OLHARES - algumas palavras para se ver quando o assunto é observação


Ilustração de Mônica Carretero
Reli, da melhor maneira que pude, até onde meus olhos puderam alcançar,alguns textos e registros antigos - meus e de colegas coordenadores pedagógicos, para sistematizar minhas reflexões sobre o objeto de estudo “observação”. Objeto este tão caro à prática profissional do Coordenador Pedagógico.
Costumo dizer que a escrita é catártica: organizo meu pensamento escrevendo (bem mais que falando). 
Neste percurso, ficou explícito que o olhar de cada um contribuiu para que eu reelaborasse algumas questões sobre o conceito de observar. Identifiquei que é um “olhar curioso que amplia o do outro”. Constatei que “precisamos uns dos outros para enxergar melhor!” , pois realmente “sempre alguém vê o que você não viu ainda.” . Disso advém a importância da observação do coordenador pedagógico em relação à prática do professor. O ser humano enxerga uma faceta da situação; outras serão olhadas pelos parceiros que conquistamos ao longo do caminho. Fora que “cada olhar é resultado das diferentes vivências/experiências de vida e profissionais de cada um.”  “Nossos olhares vêm carregados daquilo que somos, da nossa história de vida, das nossas impressões e até pré conceitos...”
Por conseguinte, é imprescindível aprendermos a olhar para não deixar que certos aspectos sugestionem a direção deste olhar. Outro motivo importante para exercitarmos o olhar cuidadoso é o fato de que “nosso olhar às vezes realmente se cega para aquilo que já é costumeiro, a postura de investigação acaba adormecendo, se torna preguiçosa.”
Embora a neutralidade seja praticamente impossível, cabe ressaltar que a vigília para sairmos de nós mesmos e alcançarmos outras posições para realizar observações significativas e produtivas, capacita-nos a “sair da observação da fachada de uma casa, por exemplo, e ir adentrando a casa, conhecendo seus cômodos, sua organização, seus habitantes...” , desenhando um “movimento de olhar em camadas” 
Neste movimento temos a oportunidade de “construir um olhar sensível e pensante”. Quanto desafio há em desenvolver um olhar que ouve, sente, pensa, toca!
Ampliar o alcance do olhar! Outro desafio...mas nada que uma atitude de se revelar ao outro não possa ajudar a vencer. “Na ação de sermos olhados e aceitarmos as críticas é que superamos a insuficiência de nosso olhar interno, muitas vezes centrados em nossas antigas experiências, vendo apenas o que sabemos e o que entendemos.”
Estas foram minhas primeiras aproximações! Aproximações possibilitadas pelos diferentes olhares deitados sobre vivências compartilhadas com os vários profissionais que cruzaram meu caminho. Espero dar outros passos, pois certamente existe “algo maior refletido por trás de tudo isso.”

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Vale a pena conferir: [Curta/Animação] Evolution

O ponto de chegada só faz sentido quando nos convoca a transformá-lo em ponto de partida. Eis a dança dialética em que se encerra a vida, eis a melodia dialógica orquestrada pela vida!


terça-feira, 3 de setembro de 2013

Um dia para recordar

*Em memória à querida amiga Maisa Franzini 

Poderia ter sido uma tarde como tantas quaisquer. Mas quisera marcar sua passagem com todo esplendor que lhe cabia reclamar.
Poderia ser mais uma quarta-feira ordinária, em que o relógio trabalharia até às 21h30, sem poesia alguma.
Poderia ser mais uma sucessão de horas trabalhadas, computadas na folha de pagamento ao final do mês...
Tudo de repente, fruto de nossas escolhas, pode rumar para alamedas em que repousar o olhar é necessário para saborear a paisagem.
Foi então que aquele dia definitivamente se fez existir, traçando no espaço linhas que me definiriam como formadora.
E eu desejei que cada segundo correspondessem a uma hora.
Ela tomou o livro nas mãos e, delicadamente, ordenou que eu me sentasse, ouvisse. Sorvi cada palavra hesitante e desejosa:


"Teresa, não. As outras não sei, mas ela, com certeza, não. Nunca reclama. Parece um doce que não desanda. Sentada na varanda da sua casinha modesta, mas limpinha, casinha branca de janelas azuis, tão de brinquedo que parece uma pintura. Florezinhas plantadas em latas de óleo vazias, um gato malhado que dorme no primeiro degrau. Borboletas voando que estalam as asas, feito quem diz: “Ai, que bom viver! Ai, que delícia”. Ali não é um lugar, é uma lembrança de infância."

Sua voz suave, porém firme, cadenciava os verbetes, numa dança mansa e solitária...

"Será por isso que os filhos nunca aparecem? Nem para as festas? As comadres falam “que absurdo!” e outras exclamações cheias de vogais. Teresa, não. Nunca reclama. Ao invés, faz mais doces, mais e mais. E tão difícil que é, veja só: num fogão de lenha! Tem que catar graveto, que ela não tem dinheiro para encomendar lenha já cortada, como a vizinha Salete, aposentada do Correio. Que quê tem? Graveto dá no chão, graveto dá de graça. É só pegar.
Teresa pega as coisas do ar. Com seus olhinhos de jabuticaba, só faz sonhar. Por isso que a vida não dói. Fazendo beiradas de paninhos de copa, vai cabeceando, cabeceando até cochilar. Entra no sonho, toma um sorvete com o primeiro namorado, brinca de roda com as amigas de longas tranças, banho de rio, rouba goiaba e faz doce de tacho... Acorda com o cheiro do doce de verdade. Quase passou da hora de tirar do fogo!"

De vez em quando, erguia os olhos para superar a linha horizontal dos óculos e me fitava com um azul severo, ao mesmo tempo aconchegante...

"Teresa gostava muito de filme de bangue-bangue. Perdia tempo escrevendo cartas compridas para uma sua prima do interior mais interior que o dela. E tendo já uma queda para o doce, ia matando menos índios, dando menos tiros, amansando os gritos, aumentando os romances e suspiros, terminando por fazer do tal filme, um melado. Mas agradava. A prima sempre respondia agradecida, dizendo que não perderia de jeito nenhum o tal filme quando passasse em sua cidade. Que nunca ia ser: no interior do interior ninguém nem sabia o que era filme, que dirá cinema.
Isso quando era menina-moça. Depois, o marido largou dela e teve de pelejar para criar os sete filhos. Só. Com doce. O que ficava de menino com o nariz espetado na janela, que nem pardal querendo roubar pão da mesa de gente, nem te conto. Um mundo! Esqueceu dos filmes. E o doce? Levado em potes para as casas com mais abastança. Nem por isso acabava de brotar do seu coração, mais doce, mais e mais. Quem não tem vocação para amarga, venha a onda que for — não arrasta. Nem salga."

Dificilmente parava para recuperar o fôlego. Amava tudo aquilo. Seus poros denunciavam isso. Era possível sentir o calor da paixão pela leitura. Humildemente me ofertou um banquete. Um banquete em plena tarde de quarta-feira.

"Nesse meio tempo, teve de botar as cartas, as letras, os filmes, histórias de lado. Para depois. Mas depois sempre vem. Os sete filhos criados foram cada um para um lado. Nenhum puxou o jeito doce, todos traziam o selo do pai: sério, preocupado com essa coisa de fazer dinheiro. Os filhos, iguais, foram buscar o ouro no pote do final do arco-íris. Teresa queria era o pote. E o arco-íris. O ouro, se tivesse, botava de enfeite num bolo.
Um dia, procurando cortes de fazenda para fazer um vestido novo de Natal, deu com as cartas da prima. Que saudade de escrever! A prima, já morta, escrever para quem? Os filhos trabalhavam tanto, os netos e bisnetos nunca iriam responder...
— Pra mim, ué. Então, eu não sou alguém?"

Sorriu. Era puro prazer. Eu, hipnotizada.

"A mão, treinada de doce, buscava um gosto de começar. Com canela ou sem? Pitada de baunilha, sim ou não? E foi soltando a imaginação, brotando o caldo em calda. Uma vida toda para contar, bem temperada. Doce que nem ela. Feito compotas guardadas em porões secretos, coisas simplezinhas que, envelhecidas, se tornam finas iguarias que adoçam a mesa dos reis. Escreveu, escreveu, escreveu. Depois amarrou o monte de cadernos de espiral com uma tira de chita florida. E deixou para lá."

As pausas ocorriam para que seus dedos longos pudessem transpor as páginas caudalosas de poesia.

"Até que um dia... (sempre tem um dia que as coisas mudam, sei lá por quê). Um dia, os filhos disseram que vinham para o Natal. Com a família completa. Vai ver assistiram a um desses filmes xaroposos na televisão, em que morre a mãe velhinha, sofrendo da horrível dor da solidão e do abandono. É verdade que é triste isso de passar borracha em gente, mas Teresa... Teresa, não. Nunca reclama. Achou boa a ideia. E foi fazer doce.
Trabalhou que foi uma enormidade. Mas quando se tem noventa e seis anos já não se é mais uma menina. Vá convencer Teresa disso! Arrumou a casa, preparou tudo, os meninos chegavam daí a pouco. Terminou, guardou o avental e foi se sentar na varanda, na hora da Ave-Maria. Que pôr-de-sol bonito! Parecia um caldo de goiabada esparramado num chão de azulejo azul. Foi cabeceando, cabeceando até cochilar.
Nem o barulho das gentes chegando acordou Teresa. Nem os beijos dos bebês, cheios de lágrimas do medo de ver um rosto tão marcado de rugas. Nem os presentes de todo tamanho. Nem chamando pelo nome, que fazia tempo ela não ouvia de boca outra que não a própria. Nem balançando de leve a cadeirinha. Nem sacudindo, sacudindo. Teresa entrou no sonho e era um sonho tão doce, doce, mais e mais. Não deu vontade de sair. Parecia um sonho de verdade, não como aqueles de padaria. Dos feitos em casa."

 Fitou-me como que querendo comunicar o clímax, um porvir surpreendente, inesperado. Nada de clichês.

"Depois do enterro, a família voltou para casa com pressa de ir embora. Não cabiam mais ali. Distribuíram os muitos doces entre si, arrumando as coisas igual quem quer fugir. Quase iam deixando o principal para trás. Porém, um menino se soltou do colo da mãe e, andando por aí, deu com uma ponta de chita florida embaixo da cama. Foram abrindo os cadernos, um por um, lendo devagar, sentando no chão para apreciar. Aquilo é que era doce!
Não sei... É por essas e outras que eu acho que a vida devia começar pela sobremesa. O salgado vinha depois. Porque, às vezes, quando o doce chega, não tem mais espaço..."

Quando dei por mim, uma lágrima visitava minha face corada de emoção. Por alguns instantes, cedemos lugar ao silêncio. Ficamos um tempo assim, trocando olhares de cumplicidade, Aprendiz assimilando os passos do mestre.
Sim, "às vezes, quando o doce chega, não tem mais espaço". Não fui a mesma daquela cerimônia e este momento jamais se repetirá. Tive muita sorte de saborear o doce naquela tarde e, sem dúvida, sinto hoje o gosto salgado quando choro de saudade, sabendo que não mais experimentarei sobremesa tão nobre.

O texto citado se chama Doce de Teresa, de Flavia Savary. Foi extraído do livro "25 sinos de acordar natal".


segunda-feira, 2 de setembro de 2013

"Os delírios verbais nos terapeutam". (Manoel de Barros)

Amo as duas coisas que unem os homens independente do quão distantes se encontram. Entendendo por distância não somente o espaço existente entre um referencial e outro, mas também a posição ocupada por cada um ou simples fato de jamais terem dividido anseios, aspirações, ideais.
A música transpõe limites, supera muros, oportuniza que falantes das mais variadas línguas se comuniquem pela vibração do ar.
A palavra materializa o pensamento, cria elos, constrói esquemas catárticos para superarmos qualquer fragilidade de pensamento. 
Tenho vivido uma adorável experiência de construção textual coletiva. Parece inocente, mas tenho a impressão que as palavras dançam na ponta de minha língua, num desejo único de ganharem palcos. Pulam obstinadas para as mãos, emergindo na ponta do lápis ou nas digitais que afagam o teclado do computador. Que delícia!!!!
Abaixo, um texto produzido a cinco pares de mãos e cinquenta dedos, sem reservas ou melindres....


"Passava as tardes a tricotar desculpas para deixar de viver. Até que um dia vestiu-se de pretextos e passou a tricotar razões para renascer, pois finalmente olhou para trás e pensou: por que afinal perdi tanto tempo assim?! Olhou para o chão em busca dos fragmentos de tempo, que escorrera por entre os dedos trêmulos e envelhecidos... olhou para frente e suspirou: ainda é tempo....
olhou para dentro... e agora entendia o que já dizia Clarice Lispector: "Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil"...
E ainda assim, ao se perder olhando para si, por um átimo de segundo - e não mais que isso - considerou que perder tempo (no amor) é como construir rosas de espumas: poesia que faz da perda uma canção de outras sempre vindouras criações.
Autores: Renata Frauendorf; Rosaura Soligo, Tatiana Santos, Demostenes Papayannaros e Thiago Ribeiro.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Dia Internacional da Fotografia

Se eu não fosse educadora, mergulharia mais profundamente na profissão de cantora.. E se nada desse certo.... faria poesia com imagens: fotografia!

Alguns registros meus que gosto de ver:






















sábado, 3 de agosto de 2013

Colocando luz na leitura


Em tempos de PNAIC (Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa) é sempre bom manter a acesa a chama sobre a competência leitora do brasileiro.
Chamou-me a atenção a manchete: "Maioria dos consumidores lê rótulos de alimentos, mas parte deles não entende" referente a uma matéria publicada no site da Folha de São Paulo, seção Equilíbrio e Saúde. É claro que o foco da matéria não é dizer que o consumidor não sabe ler e sim, criticar quem publica tais informações, apontando que elas não estão chegando como deveriam em quem consulta os rótulos. No entanto, como educadora, não podia deixar de deitar meus olhos sobre a forma como os consumidores acessam os conteúdos de um rótulo. Sim, há um tanto de informações técnicas que um leigo não alcançará da mesma forma que um especialista em nutrição, mas o que me incomodou foi a construção frasal das informações que, ao meu ver, não tem nada de específico, a não ser o fato de carecer de estratégias de leitura para localizar e inferir informações.
Vejamos um exemplo, trazido pela própria matéria:

"O indivíduo observa que o alimento supre 25% da recomendação diária de uma substância numa dose, mas não tem noção do que é isso" 

Não entendo que o problema seja apenas de ordem técnica, ou seja, o leitor pode não compreender o impacto do consumo da referida dose da substância no organismo, pois isso envolve conhecimentos específicos de nutrição, mas deveria compreender que num universo de 100% (correspondente à recomendação diária) ele, consumindo aquele alimento, terá que observar os próximos produtos que consumirá, pois já alcançou 25%. Deverá interpretar também que, se comer 4 porções deste alimento, terá alcançado a cota recomendada. Este entendimento tem mais relação com a capacidade leitora do que com os conhecimentos técnicos e de educação alimentar.

Podemos fazer um pequeno e rápido exercício, analisando um rótulo:



Tirei esta informação da embalagem de leite que estava dando sopa na pia de casa. Olhando friamente, verificamos o título (INFORMAÇÃO NUTRICIONAL) que já traz o indicativo principal do que encontraremos no conteúdo do texto. Neste caso, não precisamos acionar a estratégia de inferência. O corpo do texto está organizado em forma de tabela, assim precisaremos, certamente, conhecer este gênero para saber como lê-lo e localizar as informações que desejamos. Quando falo tabela, para quem conhece o gênero, uma série de informações nos vem à mente, pois acionamos saberes previamente construídos sobre este tipo de texto. Dessa forma, sabemos o vamos encontrar na estrutura geral e assim, articularemos os elementos, para precisarmos as informações. Sendo assim, temos dados distribuídos em colunas e linhas, organizando a natureza da informações, relacionando itens e seus referentes. O leitor precisa coordenar colunas e linhas para identificar e/ou localizar a informação necessária.
Aparentemente simples, mas requer certo conhecimento para acessar o conteúdo, bem como procedimentos adequados, os quais devem ser objeto de ensino de leitura, sobretudo no Ensino Fundamental.
Não basta "ensinar" aos alunos no formato canônico: texto, perguntas, resposta, correção. Isso é pressupor que o papel da escola é ensinar a decodificar, pura e simplesmente. Procedimentos e estratégias de leitura DEVEM ser ensinados. Como mergulhar nos diversos gêneros textuais DEVE ser ensinado na escola.
Não me lembro disso em meu processo de aprendizagem. Como citei acima, assim que aprendi a decifrar palavras, fui convidada a ler texto simples e cartilhescos e a dar as respostas esperadas. Sem discussão, sem análise, sem confronto e contraponto. Esta forma de "ensinar" acompanhou muitos da minha geração. Talvez isso explique a manchete que inspirou este texto.
Voltando ao cerne da matéria, em que os especialistas buscam formas de expor a informação de maneira mais acessível (incluindo imagens e código de cores), faço um apelo à escola: já está mais que não hora de ressignificar o ensino da leitura, considerando-a em toda sua complexidade. Ensinar a ler é oferecer elementos e instrumentos para que o aluno saiba como encontrar num texto aquilo que resolverá um problema posto. Reforço que ensinar a ler, não é treinar nem cobrar do aluno respostas (explícitas ou implícitas) nas denominadas atividades de interpretação textual. O aluno-leitor, inexperiente que é, precisa de desafios possíveis, bons modelos, engajamento e vivenciar situações de leitura com as quais se confrontará no cotidiano. Assim, quem sabe num futuro próximo, tenhamos matérias que digam que os rótulos precisam ser qualificados porque o leitor brasileiro é exigente e não aceita informações supérfluas e vazias, e não porque não entende o que lê.


Leia aqui a matéria na íntegra.
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/08/1321029-maioria-dos-consumidores-le-rotulo-de-alimento-mas-parte-deles-nao-entende.shtml

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Memórias de um mergulho no universo da escrita

o Caderno.
o Lápis.
a Mãe amorosa....
a Cozinha.
as Fichas.
a Cópia.
o Mistério.
o Medo.
A criança sequiosa.

Palavras soltas. Frases cadenciadas.
Figuras perfeitas. Cores fascinante.
Leituras silabadas. as Mãos calejadas.
Doces horas. o Tempo que passa.
Descobertas a surgir. Desafios eternizados.
Turbilhão na mente. a Voz que falha.

Degraus que se galgam. Barreiras que se quebram. Luzes que se acendem. Vitórias que se alcançam.

Então.....

que maravilha!!!
a Escrita.
o primeiro Verso.
a Leitura. o primeiro Gibi.
desvelar o Submerso, o Aqui, o Ali....

CRESCER, FLUIR, REINAR
ESCOLAR...
ESCOLAR..........
ESCOLAR..........................


terça-feira, 30 de julho de 2013

"Eu canto porque o instante existe"

Porque cantar estabelece uma lógica de vida indispensável para que eu possa me entender....

Acho que é isso que responderia, se me perguntado fosse sobre a importância do canto para mim.

Quando canto, sinto entrar em contato com outro plano de existência: mais leve, benevolente, iluminado. Experimento uma sensação de prazer indescritível, algo que me aproxima das pessoas pelo que elas sentem de mais profundo e precioso.
Ao cantar construo as mais variadas imagens, viajo pelos mais insólitos lugares, mergulho no âmago mais oculto do ser humano, penetro nas formas mais complexas de pensamento, absorvo as manifestações culturais mais exóticas. Conheço o mundo. Incorporo o universo.
Mas é preciso que elas sejam desenhadas com pretensões sociais e intelectuais, que possam interagir com as instância racionais e emocionais do homem. Só assim conduzirão às experiências que mencionei anteriormente.
É preciso que a música também provoque dúvidas, desequilíbrios em relação às verdades que cultivamos, levando-nos a construções, desconstruções, novas construções, num movimento cíclico e dialético. Fazer pensar, refletir, pulsar, sentir, falar é uma das múltiplas funções de uma boa música.
A música pode dar conta de um momento histórica, de uma concepção política, de um posicionamento filosófico, de um patrimônio cultural. Pode ser um apelo, uma denúncia, um grito, uma lágrima, um sorriso.
E o que mais me intriga é a capacidade de revelar tudo isso metaforicamente, ocultando o conteúdo através de um jogo simbólico que mobiliza nossas interpretações mais subjetivas e diversas. (aliás como amante da língua portuguesa, considero as metáforas os recursos linguísticos que dão um tom todo especial às letras de música, transformando-a em poesia, em história, em manifesto, em parábola, em mito ou lenda)
A dimensão estilística da música não se delineia apenas por meio de ritmos e figuras musicais, mas também por vias contextuais, lexicais e semânticas. As palavras que compõem a letra de uma música têm participação decisória em seu estilo.
Certas músicas sensibilizam tanto nossa mente que através delas podemos nos aproximar de Deus, entrar em sintonia espiritual, alcançar a essência angelical. Têm o poder de nos conduzir à aura celeste parecendo nos transportar do mundo físico. Com isso, estabelecemos contato com experiências divinas, que vão além da matéria, sublimando nosso pensamento e nossas ações. Contudo, é preciso acreditarmos nesta possibilidade, desligando-nos da concretude do mundo e mergulhando em íntima meditação, procurando atingir energias que só captamos em harmonia com Deus.
Quando canto tenho esta deleitosa sensação. Quando canto pareço levitar e alcançar aquilo que minhas mãos não podem tocar, aquilo que meus olhos não podem divisar. A única coisa terrena a que me permito é ouvir minha própria voz, enveredando-me  por caminhos de êxtase, paz e serenidade. 


Bem diz o ditado: "quem canta, seus males espanta"