quinta-feira, 11 de julho de 2013

Comunicar-se é uma arte!

João Carlos Martins
Sala São Paulo
Jul/2013
Quando optei por me especializar em Língua Portuguesa e Literatura tive como intenção checar se minhas hipóteses, a cerca da arte de se comunicar, procediam. Sempre acreditei que o "som das palavras" guardam em si um simbologismo para além do gramaticalmente correto. Há muito de matemática nisso tudo, com a vantagem de resultados inesperados, ainda que intencionais. Combinar palavras, expressões, para concretizar o abstrato, faz da escrita uma obra complexa e laboriosa.
A Flor do Lácio é mister quando o assunto é revelar o inefável. E não há teoria que consiga justificar a escolha daquele que divaga por entre os deslumbres lexicais que habitam a mente dos falantes...
Pois bem, o que vi ontem me arremessou, da forma mais sutil possível, a um estado de inquietação. Por um milésimo de segundo não atravessei os limites da consciência para mergulhar no exercício de registrar, com as poucas palavras disponíveis naquele momento, o que meus olhos divisaram. Eu já sabia, já havia lido (inclusive estudado sobre), já tinha visto de longe, mas jamais havia sentido. Sentir provoca atitudes, quebra paradigmas, inverte lógicas, sufoca a ignorância. Precisei sentir para despertar hipóteses sobre a arte de se comunicar. Precisei flagrar a dança dos meus pés, acompanhando a batuta do maestro, para confirmar que o corpo é o idioma mais popular e natural que se possa imaginar. Eu nunca tinha ouvido aquela sinfonia, mas meus pés desenhavam no ar trajetórias que pareciam compor um esquema memorizado de como se comportar a cada nota soprada, a cada instrumento tocado.
Meus olhos deixaram a admiração ceder lugar à investigação. Felizmente minha busca curiosa durou o tempo suficiente para eu não deixar de gozar o prazer de ter um corpo que dialogava com cada músico ali presente.
Havia um harmonioso e arquitetado esquema, criado entre a mente e o corpo, para o maestro traduzir uma partitura (que só fala para alguns) em dialeto comum aos presentes, com eficácia insuperável e ausência da tal tecla SAP!
Podia-se escutar alguém dizer assim: "sinta a suavidade das nuvens sob céus pés, corra sem esforço quando o vento soprar, deixando-se levar pela brisa que te invade as narinas, carregue tudo que puder, seus braços são fortes e suportarão o que vier pelo caminho, derrame uma lágrima para refrigerar o rosto sob o sol escaldante, cerre as pálpebras, é noite e deve descansar". Todos entenderam isso: vi sorrisos, lágrimas, surpresa e estupefação. Se ao invés de batuta o maestro portasse um pêndulo não conseguiria o mesmo efeito hipnótico quando fez sair do imponente piano a soberana "Cinema Paradiso". Ninguém piscava. Apenas a respiração ficava ofegante quando a música crescia....
Ainda que o maestro ficasse de costas para a maioria dos espectadores não foi possível perder um fio sequer de nossa conversa familiar e saborosa. O baile dos braços, o jogo de cabelos, a hiperatividade dos dedos, o equilíbrio das pernas diziam tudo o que era preciso, deram o recado da noite: a música é a língua universal e o corpo, o instrumento que a torna acessível, para todos.
E quando digo corpo, falo dele inteiro, sem exceção ou privilégio de partes. Até porque, para estar de verdade é preciso ser inteiro. Reger uma orquestra exige do maestro sua versão mais holística, impregnando os mortais de sua paixão por esta forma de arte.
Sorver cada movimento foi o mesmo que conversar deleitosamente sobre o assunto que te interessa com alguém igualmente interessante.
O espetáculo foi de revigorar a esperança no possível, pois, ainda que as articulações estivessem limitadas, João Carlos Martins soube pousar os dedos sobre nossas, nem tão doloridas, feridas com tamanha nobreza que só restou abandonar as lamentações e acreditar que a música comunica algo divino e pode nos tornar melhores do que fomos ontem.
João Carlos Martins
Sala São Paulo
Jul/2013
Só uma pequena mostra do que tentei dizer!!!!

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