segunda-feira, 15 de julho de 2013

De como me tornei leitora

© Elena Vizerskaya
Sorvia da leitura apenas vestígios de um doce perfume há muito derramado nos interstícios de cada letra desenhada. Deleitava-me do pouco álcool que não se deixava volatilizar das páginas fugidias, entre meus dedos a escorregar. E isso era o bastante para produzir o encantamento perfeito.
Eu, ébria sem beber uma gota sequer de palavra do coração emergida, das mãos parturejadas pelo artesão a bordar sobre a folha alva.
Jamais pretendera mergulhar no desconhecido. Contentava-me com a brisa que beija a face e pouco dela deixa ao esmaecer. Temia o vendaval? Se o conhecesse antes, certamente não. Mas qual surpresa ao ser roubada pelo torvelinho! Num violento arroubo me descubro.
Ah! Pretensões à parte, experimentei do néctar dos deuses.
Os olhos se abriram para o que outrora era breu. Ascensão e assunção do que se pode ver, ouvir, sentir. Um desvairado desejo de se emaranhar, escavar até encontrar os alicerces. Conhecer da fruta não só o sabor, mas a semente, cada gene, e num transbordamento do eu, por que fora plantada ali.
Caminho sem volta!
Cá estou eu, escolhendo palavras, arquitetando as letras que bailam ao léu da néscia tentativa de edificar a poesia de aprender, a cada dia!

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