sábado, 27 de julho de 2013

Ideário


O primeiro passo para expressar determinadas ideias é nelas acreditar.
Além disso, nada surge do vazio e, muito menos, nele prospera.

(Ilustração de Christian Schloe)
As ideias são como o som, não se propaga no vácuo. Dependendo do local onde são lançadas, produzem ecos (bons ou ruins) que atestam sua permanência no tempo e no espaço, ora curtos, ora longos. É claro que o eco é efêmero, mas se for impactante, fica registrado em nossos ouvidos, como belas melodias a serem entoadas para a eternidade. A prova disso, são as máximas cujos mentores já não se encontram na contemporaneidade, mas que resistiram à velocidade do tempo, venceram a passagem dos anos, mantendo-se tão vivas quanto outrora.
Ideias são sementes e como elas, não bastam serem lançadas em solo fértil. É preciso que sejam devidamente cultivadas para brotarem e vicejarem, dando-nos valiosos frutos. Para criarem raízes fortes, as ideias devem ser regadas com muito estudo, pesquisa, indagação, perseverança e paciência. Paciência para aguardar seus tão sonhados resultados.
(Ilustração de Christian Schloe)
As ideias são o que animam a mente e nem sempre são inéditas ou inovadoras. Muitas vezes, simplesmente traduzem determinadas concepções e alguns pontos de vista em relação a algo pertinente à vida. Cada ser humano interpreta a vida e seus constituintes de maneira bastante particular, de acordo com sua cultura e tipo de educação a que foi submetido. Assim, nada nos impede de desenvolver ideias próprias, não necessariamente exclusivas sobre casamento, amor, morte, vida, trabalho, educação, política, esporte, sociedade, arte, religião e tantos outros elementos que compõem nosso cotidiano.
Também vejo as ideias como virtuosas bailarinas, inquietas e matreiras. Apresentam-se quase sempre em grupo, labutando em belos espetáculos, cujo corpo de baile é sempre numeroso e exuberante. Seus movimentos se justapõem, ora confundindo-se com a leveza dos véus que as cobrem, ora misturando-se aos gestos frenéticos de seus passos.
(Ilustração de Christian Schloe)
Assim são as ideias! Dinâmicas, nunca isoladas. Pensamos em várias e sobre várias coisas simultaneamente, sem nos darmos conta do jogo dialético que as envolve. Mesmo que eu disponha a discorrer sobre minhas ideias em relação a determinado assunto, será quase impossível não abordar outro, que considero adjacente e complementar. Não conseguiria falar de amizade, sem falar de outros sentimentos....
Da mesma forma que as dançarinas, as ideias gostam de se mostrar, expondo-se para um grande público. Algumas, são tímidas, têm dificuldades para se apresentarem. Temem não serem aplaudidas, temem serem repelidas. Outras, porém, não se importam com o anonimato. Satisfazem-se vivendo do reduto mental de quem as produziu. Não sentem o mínimo desejo de saírem de lá.
(Ilustração de Christian Schloe)
As minhas ideias são um pouco assim, reservadas, caladas, têm um pouco de receio de aparecer. Só quando muito solicitadas elas se pronunciam, caso contrário, preferem não se manifestar.
Mas há que se respeitar cada gota que constitui o mar de ideias que dançam mundo a fora.
Cada um defende um ponto de vista, uma verdade. E num momento ou outro cada um tem a sua razão e, se os argumentos forem bons, derrubam qualquer absolutismo barato.

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